sexta-feira, 15 de junho de 2012

HISTÓRIAS QUE EU CONTO, PARTE VII



 Mais uma vez me recordando das aventuras vividas como profissional de saúde, assisti algumas mortes que me marcaram profundamente! Tanto como trabalhador como ser-humano, fazendo plantão no pronto socorro, tínhamos em observação, aguardando ser internado um jovem adolescente de apenas 14 anos. Estava em uma sala muito pequena e apertada deitado em uma maca, gemia de dor, que era intensa e cada vez aumentava mais! O pai do lado um senhor muito humilde e sereno o acompanhava naquele momento, cuidamos dele a noite toda.
  O menino havia se machucado em uma brincadeira de futebol na casa onde morava, há alguns anos antes e lhe aparecer um ferida na perna, latejava e as vezes sangrava muito, com o tempo recebeu o diagnóstico que aquele ferimento se transformara em um câncer! Tentou vérios tipos de tratamento mais infelizmente não teve jeito, estava em fase terminal da doença, na adolescência o sofrimento é maior, sua dor apenas era aliviada com uso de "morfina" e em doses que cada vez ficavam mais altas, chegando até a super dosagens, sem cura foi se agravando, para pior aquelas nodulações se espalhou pelo corpo todo, era terrível acompanhar aquele sofrimento do menino, o cheiro extremamente fétido, não conseguíamos atendê-lo sem o uso de mascaras, teve períodos que tínhamos que colocar duas máscaras, o pai ao lado já impregnado com o odor, não percebia mais o quanto era fétido.
 O jovem gritava e pedia "tio, dolantina, tio, dolantina", ouvíamos isso centenas de vezes, não tinha quem não se comovesse com a situação, choro! Já não possuía mais lágrimas o sofrimento era demasiado, a eutanásia, que nesse caso até poderia ser utilizada, mas ninguém pode abreviar o processo do morrer, levou alguns dias e ele faleceu, deixando de sofrer e agonizar solicitando ardentemente pelo ópio da morfina.
  Lidar com a morte e o sofrimento não é fácil! Mas aliviar o sofrimento é o nosso trabalho, coragem para encarar tudo isso, tiramos forças dos dons divinos, onde encontramos o nosso apoio psicológico para intervirmos junto as pessoas que estão nesse processo do adoecer e do morrer! A enfermagem convive com isso todos os dias, dor, tristeza, agonia, perdas e sofrimento exacerbado. Que Deus abençoe todos os profissionais de saúde que fazem plantões por esses hospitais no mundo a fora, ganham pouco e dedicam suas vidas para salvarem e aliviarem sofrimento alheio.

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