domingo, 3 de março de 2013

QUANDO A MORTE É INEVITÁVEL!



  Um assunto que não gostamos de tratar e  nem de lembrar, mas infelizmente faz parte do nosso dia-dia! Como profissional de saúde já me confrontei várias vezes com esse dilema, ou melhor dizendo com essa inevitável impotência dos profissionais de saúde. a medicina procura a todo custo evitar que as pessoas morram, que vivam muitos e muitos anos, mas a verdade é que ela acontece e que em grande parte, pode-se fazer de tudo e ainda é pouco para evitá-la.

  Como morrem as pessoas? Acidentes, homicídios, suicídios, doenças e fatalidades, são as formas mais comuns de morte. A faixa etária, nunca foi tão jovem como agora! antigamente os filhos enterravam os seus pais, hoje muitos país enterram seus filhos! A violência, as drogas e o alcoolismo, são os grandes responsáveis por essa triste estatística. Mencionarei algumas experiências vividas nesses 21 anos de profissão.

  A primeira morte que assisti e fiquei muito perplexo, até porque de uma forma direta, me responsabilizei por isso! Não que tenha efetivamente culpa, mas ao participar do atendimento á uma criança, que veio a falecer após o uso de uma medicação prescrita, de uma certa forma acabei por participar. Deu entrada no pronto-socorro uma criança de aproximadamente uns 10 meses, com quadro febril e um processo muito conhecido hoje como uma "virose", foi prescrito um soro e dipirona na veia. preparei a medicação e encaminhei a mãe e a criança á uma sala apropriada, sendo criança de difícil punção venosa, chamei uma aux de enfermagem do setor de pediatria, para administrar o soro  e a medicação. Fui chamado para atender outra ocorrência e deixei-a  fazendo a medicação, poucos minutos depois, me chamaram que a criança estava em parada cardio-respiratória.

  Toda a equipe médica e de enfermagem do hospital fora acionada para atender aquela emergência, tentando reverter a parada, foi "feito de tudo", mas infelizmente , não conseguimos devolver aquela crinaça com vida a seus familiares! A impotência foi grande, de que adianta, tanto conhecimento se não conseguimos reverter um processo de morte? A história é grande e a única coisa que me lembro, que todos os profissonais naquela noite choraram muito! A criança brincava com o rolo de fita crepe no momento da punção venosa, mal sabia ela e nós, que ela teria sua morte decretada, através de uma reação alérgica e irreversivel á dipirona, medicamento tão utilizado e as vezes até indiscriminadamente por muitas pessoas no mundo todo.

  Outra morte que me chamou muita atenção e também a frustração, foi de uma jovem de aproximadamente 19 anos. Deu entrada no pronto socorro, após ingestão de grande quantidade de antidepressivo. Apresentava-se comatosa, porém com quadro clinico estável. foi realizada a lavagem gástrica para a retirada dos comprimidos que ainda permanecia no estomago, após encaminhada a UTI para observação. A jovem apresentava melhora clinica, dando esperança á equipe e aos familiares. Sem saber a quantidade exata do remédio que a mesma havia ingerido, estávamos bastante esperançosos, porém na mesma noite ela veio a falecer, por depressão respiratória, ocasionada pelo excesso de antidepressivo ingerido.

 Se a mesma tivesse sido entubada e colocada no respirador, hoje com certeza ainda estaria viva! Mas o "se", não permitiu! A morte foi inevitável, dentro de uma UTI com profissionais capacitados, mas mesmo assim não foi dessa vez, mas uma vez á impotência diante dessa realidade, foi o sentimento mais forte. A medicina não aceita essa derrota iminente para a morte! Quem sabe um dia poderemos enfrentá-la com mais chances reais, de pelo menos evitá-la de forma iminente. Que a mesma só vença quando for na velhice e pós muitos anos de confrontação crônica. é um sonho, mas é possível!

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